segunda-feira, 30 de março de 2009

Terapia Sexual I



Uma dona de casa lê um artigo e descobre que sofre de uma disfunção orgástica, ou seja, incapacidade de alcançar o orgasmo nas relações sexuais. Um homem de negócios bem sucedido torna-se sexualmente impotente e não consegue descobrir qual a causa dessa disfunção. Para solucionar suas dificuldades sexuais a quem deveriam recorrer essas pessoas? Com certeza a um terapeuta sexual.

Há muito pouco tempo não existiam especialistas que pudessem tratar adequadamente os portadores de tais distúrbios. Muitos médicos chegam mesmo a evitar a abordagem franca de questões sexuais na prática clínica, por sentirem-se pouco à vontade nessa área específica de atuação profissional. Não é crítica, pois não existiam estudos sobre o assunto mesmo nas faculdades de medicina e este era tratado de forma muito superficial.

O Terapeuta Sexual é um profissional com treinamento específico para a abordagem de dificuldades sexuais. Na maioria das vezes, seja ele psicólogo ou médico, o terapeuta sexual tem condições de orientar os problemas emocionais que com freqüência estão ligados às disfunções sexuais.

Em muitos casos, as disfunções sexuais podem ter suas raízes em causas mais imediatas e mais simples, do nosso dia a dia, do stress contínuo, da ansiedade crescente e também por causas orgânicas, doenças que alteram a nossa resposta sexual. Muitos pacientes respondem rápida e favoravelmente aos métodos de tratamento planejados, eliminando os obstáculos ao funcionamento sexual normal e prazeroso.

A Terapia Sexual se propõe a eliminar a disfunção sexual do paciente e esta terapia utiliza exercícios sexuais de comunicação como parte essencial do tratamento. Evitamos o papel tradicional do médico de assumir a postura de autoritarismo e paternalismo. No entanto, é certo que ele tome parte ativa dirigindo, interpretando e determinando os objetivos do paciente.

O terapeuta atua, no casal, como facilitador do seu crescimento e de sua mudança caminhando para a melhora ou cura da disfunção sexual. Com freqüência o terapeuta participa ativamente nas reações dinâmicas que se estabelecem no casal, retirando-se de campo assim que possível devolvendo-lhes a responsabilidade.

Sabemos hoje que as disfunções sexuais são também reflexos de influências culturais e emocionais do que propriamente “doenças”.Antes de se confirmar um diagnóstico de disfunção sexual como impotência ou vaginismo, é essencial afastar a possibilidade de um distúrbio orgânico. Isto é realizado com exames físicos e complementares que confirmem ou esclareçam a doença.

É fundamental que haja a participação do (a) companheiro (a) do (a) paciente em tratamento, pois, toda disfunção sexual lhe repercute em maior ou menor grau. Se o tratamento for realizado apenas com a pessoa em quem se manifesta a disfunção, o outro parceiro pode destruir ou comprometer grande parte do esforço terapêutico por incompreensão da verdadeira natureza da dificuldade do casal.O fundamental na terapia sexual é estabelecer um relacionamento tranqüilo e mais afetivo entre o homem e a mulher.

Em resumo, o tratamento inicia-se com uma consulta individual e após com o casal, quando se explicam os processos e os objetivos do tratamento. Se o casal concordar iniciam-se sessões de terapia quando se recomenda a troca de carícias íntimas suaves e afetuosas para que os parceiros descubram naturalmente os chamados focos sensoriais um do outro (as regiões que mais se sente prazer). A linguagem do tato é reforçada por estímulos olfativos e visuais. O importante é o casal descobrir que a função sexual não é apenas expressão física. O tratamento evolui com exercícios e orientações sexuais que o casal realiza em casa. Ocorre uma aproximação intensa e cada um dos parceiros pode descobrir novas respostas sexuais próprias ou do outro, nunca antes percebidas. Como a comunicação dos parceiros em nível corporal melhora sensivelmente, o relacionamento torna-se mais espontâneo e a solução da disfunção sexual começa a aparecer.
Podemos concluir que quando o casal ou somente o paciente com sintomas se integra totalmente no tratamento, a terapia sexual dá excelentes resultados.

Dr. Celso Marzano
Urologista, Sexólogo e Terapeuta Sexual

sábado, 28 de março de 2009

Como controlar a gula



A melhor maneira de se evitar a compulsão alimentar é fazer pequenas mudanças de efeitos significativos na alimentação.


A compulsão pode ser definida genericamente como a busca obrigatória, imperativa e sem controle do prazer. Quando focada nos alimentos (compulsão alimentar), caracteriza-se pela presença de três ou mais dos seguintes critérios: comer muito e mais rapidamente que o normal; comer até se sentir incomodamente repleto; comer grandes quantidades de alimentos (mesmo já saciado); comer sozinho (para evitar o embaraço devido ao absurdo da quantidade); sentir repulsa por si mesmo ou culpa por ter comido tanto. O diagnóstico só pode ser feito por um médico especialista, mas, em geral, quem se identifica com a maioria das atitudes acima tem grandes chances de sofrer da “síndrome da gula”.

Como doença, a compulsão alimentar pode estar relacionada a problemas de regiões do cérebro responsáveis pela produção e “regulagem” da substância química serotonina, que participa do controle de grande parte de nossas emoções (inclusive as compulsões). Os sintomas clássicos podem ser desencadeados por uma grande variedade de situações psicológicas, tais como ansiedade, tensão, tédio, perdas, frustração com planos que não deram certo, excesso de obrigações, entre outras ligadas ao estresse contemporâneo.

Francine Prose, em seu livro Gula, mostra que, no Renascimento, comer muito significava incorrer em um “vício” que afastava as pessoas de Deus. Depois da Revolução Industrial, sucumbir à tentação das delícias à mesa passou a ser sinal de prosperidade. Tida como o quinto pecado capital, a gula mereceu condenação por parte de religiões que condenam o excesso, sob o argumento de que os alimentos devem ser compartilhados. Na Divina Comédia, os glutões se situam no círculo do Inferno de Dante. E na sociedade contemporânea comer demais pode ser sinal de busca de prazer ou de carência afetiva...

Em pesquisas realizadas em nossa clínica, por meio de questionários entregues a pacientes que nos procuram para tratamento do excesso de peso e da obesidade, temos observado uma incidência em torno de 75% de casos de compulsão significativa (com a presença de três ou mais dos critérios fixados acima). Não só nesses levantamentos como também na literatura médica em geral, verificamos que a compulsão alimentar acomete mais da metade dos pacientes que estão acima do peso ideal. Para fazer o diagnóstico de compulsão alimentar, são muito importantes o sentimento expresso de perda de controle (falta de liberdade por optar entre comer ou não) e o sofrimento relativo à impotência de reagir diante dessa situação.

Qualquer caso de compulsão pode ser tratado, e freqüentemente se recomenda o apoio psicoterápico. Nas compulsões alimentares, observamos bons resultados com a suspensão temporária do consumo de carboidratos (açúcares). Porém, isso deve ter a supervisão e o acompanhamento de um médico nutrólogo de confiança. A melhor maneira de se evitar ou se controlar a gula é fazer pequenas mudanças de efeitos significativos na alimentação. Normalmente, quanto mais comemos alimentos ricos em açúcares de alto índice glicêmico (doces, pães, etc.), mais gulosos e “carentes” de doces ficamos. Isso se deve a uma relação química existente entre a insulina (hormônio produzido pelo pâncreas) e a serotonina. Mas deixe essa parte da história com o seu médico. Com uma boa reeducação metabólica e alimentar, você vai viver de uma forma bem mais saudável e menos ansiosa, e poderá, finalmente, libertar-se da gula.

Alexandre Merheb

quarta-feira, 25 de março de 2009

Perdida no tempo-espaço




"Esperança é algo que já não tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé. Voou também. Nem vi. Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde. Já não sei o que vestir quando me convidam. Por isso nunca aceito. Fico em casa com satisfação. Vou até o quintal e aproveito o tempo para estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só pra tirar o mofo, tomar um ar. Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história. Uma por uma. Tudo que eu amo desaparece. O tempo voa enquanto espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde".

."sinto falta do nosso silêncio a dois" .

sábado, 21 de março de 2009

Eu quero é botar meu bloco na rua!


Por muito tempo o movimento estudantil era sinônimo de credibilidade e de respeito, graças às inúmeras pessoas que lutaram ao longo do tempo, e principalmente no período militar, para que os estudantes tivessem melhores condições de estudo e liberdade de expressão. E além de defender os direitos de todos os cidadãos.
Várias siglas ficaram conhecidas como: UNE, UBES, USES e tantas outras que se tornaram marcas na história brasileira.

Acontece que hoje essas marcas se transformaram em produtos políticos partidários que são disputadas a tapa para vê quem vai dominar tal sigla e através do prestigio usa-la como trampolim político.

Hoje em dia eles utilizam os congressos para atrair estudantes, ai você até pode pensar: isso não é bom? Mas acontece que os atuais congressos não são propriamente para discutir temas que melhore a educação, mas são verdadeiras festas que rola de tudo. E verdadeiras arenas onde os representantes de políticos se digladiam para sair como a vitória em determinados pleitos que acontecem nesses congressos, e as vitórias só acontece depois de reprimir ou oferecer privilégios aos delegados que tem poder de voto.

Uma outra coisa que atrai os jovens é achar que o espírito revolucionário é moda e não um meio que existe para conscientizar os estudantes e a sociedade em geral. E esses estudantes na sua grande maioria não sabem nem o que é movimento estudantil.
É muito fácil identificar a forma como é tratado hoje em dia o movimento estudantil, basta você acompanhar as eleições do grêmio nas escolas e você vai vê que as maiorias das chapas são eleitas porque têm no seu comando pessoas que são populares ou tidos como os mais engraçados da escola e dificilmente tem alguma proposta a ser apresentada. E são esses jovens que são cobiçados pelos partidos políticos na época da eleição, eles trabalham para candidatos que oferecem de tudo, e acabam tirando toda a atenção do ambiente escolar.

Sem contar alunos que reprovam por vários anos apenas para continuar a frente dos grêmios e manter certos grupos políticos no comando.

O período mais forte do movimento estudantil foi na ditadura militar. E hoje em dia o acontece com o movimento não é uma forma de ditadura? Exemplo disso é parente de políticos que já estão se preparando dentro dos movimentos para ser o corrupto do futuro e ainda garantir que seu parente tenha um governo tranqüilo, sem “subversivos” para atormentar seu governo.

A grande pergunta que fica é se isso vai continuar acontecendo por muito tempo, o que vai acontecer com Brasil que é tido o país do futuro, será que são esses jovens que vão levar o país para esse futuro?

J.D. Nascimento

.nas ruas, nas praças, que disse que sumiu?! aqui está presente o movimento estudantil.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Investir em educação não traz votos


Nessas reportagens sobre a educação, as soluções são claras: verbas maiores para pagar professores, escolas construídas com segurança, bem aparelhadas tecnicamente. Mas ninguém faz. Por quê? Por que somos um dos países com o pior sistema de educação do mundo? Quais são as causas profundas dessa vergonha?

Bem, primeiro, porque educação não traz votos. Escolinhas limpas, quem liga para isso? Mesma coisa com a saúde. São problemas de puro interesse social, e isso não elege ninguém. Obras só interessam quando dão lucro eleitoral ou lucros em roubos privados.

Nas escolas, dá para roubar na construção, nas merendas, mas é coisa pouca, é mixaria. Na saúde, ainda dá para roubar bem mais, desviando remédios, com superfaturamentos, etc. Mas repensar a estrutura geral da saúde também não dá grana. E dá muito trabalho!

Bom é ganhar votos e roubar em grandes viadutos, barragens faraônicas, canais épicos. Além disso, no Brasil, como diz o Lula, desde Cabral a educação foi programada para não haver. Portugal e a burguesia secular jamais quiseram que o povo aprendesse. Educação é liberdade, entendimento, perigoso! Até o século 19, tinha de haver autorização do governo para a publicação de livros, sabiam?

Está entranhada na alma brasileira a ideia de que pobre não precisa estudar. E muita gente acha que é até melhor que sejam analfabetos. São mais fáceis de enganar, basta que saibam servir.

Qui, 19/03/09 por Arnaldo Jabor

terça-feira, 17 de março de 2009

A Infância e o Marquês de Sade



Segundo o senso comum, a infância é o período compreendido entre o nascimento e a adolescência, sendo esta última o ponto onde começam a surgir as primeiras experiências da vida do infante;segundo uma outra definição, infância é o começo da existência de alguma coisa, sendo assim, podemos considerar esta coisa também como a experiência e a aprendizagem, não necessariamente nesta ordem.

O dicionário Melhoramentos (1997, p.136) define criança como o “ser humano no período da infância, menino ou menina, infantil” e, infantil como próprio das crianças, ingênuo, inocente. Avançando um pouco em relação aos conceitos explicitados por este dicionário, temos: ingênuo como sinônimo de puro, natural, sem malicia, simples e fraco e, inocente como aquele que não tem culpa, que não causa mal, idiota, imbecil ou criança pequena (MELHORAMENTOS, 1997, p. 277-280) O que estes conceitos nos dizem?

A infância é o espaço destinado à aprendizagem, armazenamento de informações e conteúdos do mundo que cerca o infante e este, a partir do que lhe foi exposto passa a assimilar o que vem a ser o seu mundo. A infância não necessariamente uma idade cronológica. Tornando-se o espaço da imaturidade e erros, meios (ou não) da maturação e do torna-se dono de si, a infância vem a ser, num pensamento mais profundo sobre ela, o momento da vida sem razão de ser, obscura e sem conhecimento, assemelhando-se às teorias da tabula rasa e do quadro branco. Desprovido então deste conhecimento empírico, ou ainda não dispondo do mesmo devido à falta de atenção ao que lhe rodeia, a infância agrega a condição de ser afetado que nos acompanha pela falta de palavras, ausência de voz, é estar afetado e não conseguir extravasar essa situação.

Associando tal pensamento com Contos Proibidos do Marquês de Sade, podemos perceber os exemplos de Madeleine e Simone, esta a virginal esposa do Dr. Royer-Collard, que partindo da necessidade que o médico sentia em ter ao seu lado uma esposa, visto que o mesmo estava a ocupar um cargo de destaque, sendo um dos bem vistos de Napoleão, vê a sua infância acabar e sua educação não completada por causa do mesmo, e, tudo o que ela sabia era graças aos livros que lia no convento onde vivia e de onde foi arrancada com as bênçãos da Igreja e a aprovação da sociedade para ser violentada noite após noite; aquela, a lavadeira que teve sua infância vivida dentro de um hospício, com sua mãe cega, impossibilitada demonstrar à filha os perigos e verdades sobre o mundo real, o mundo fora dos muros do Hospício de Charenton, e seguindo o mesmo padrão de educação assimilado por Simone, Madeleine também foi iniciada ao mundo das letras por meio do Abade Coulmier, o que a fez libertar-se das amarras que o incultismo lhe reservava, tornando-se mediadora entre a escrita do Marquês de Sade e sua publicação, que era considerada como intransigente e teve sua infância interrompida por um capricho de outrem. Observando os dois exemplos, percebemos que a infância de ambas foi marcada pela clausura e limitações do saber, sendo libertas através da leitura e emancipadas pelos questionamentos, movidas pela curiosidade própria de quem busca respostas, a base material da educação.

A leitura, a aprendizagem, a captação do saber tem uma ação libertadora, mas tudo tem um preço: esta liberdade conquistada pode ser considerada como subversiva, causando incômodo e estorvo ao sistema, tal como a literatura libertina e libertária do Marquês de Sade, que ficou preso durante 27 anos pelo crime de escrever sobre o lado mais negro do ser humano, sendo caracterizado como um escritor que recria a realidade, ou seja, transforma em ficção a vida de toda uma sociedade. A culpa sempre vai ser de quem escreve, em imaginar cada história, mas também em saber que pessoas irão ler suas palavras, sendo elas influenciadoras diretas de seus escritos, contudo, os leitores também têm sua aprcela de culpa, deixando-se levar pelas escrituras.

A partir do momento em que Simone vê o seu esposo atormentado em silenciar o Marquês, ela passa a buscar os escritos do mesmo, e utilizando-se de tamanha sutileza, passa a ser mais uma ávida leitura e discípula do intransigente Marquês bem debaixo dos olhos de seu esposo. Ao decorrer da trama, percebe-se o interesse em manter a esposa no mesmo cotidiano e segurança estabelecido pelo convento em sua própria casa por parte do Dr. Royer-Collard, mal sabendo ele do processo de alforria que se estabelecia perante e invisível aos seus olhos, obtendo seu ápice no momento em que Simone vê no arquiteto contratado por seu esposo para decorar sua “gaiola dourada” a possibilidade de concretização de seus desejos e ensinamentos por parte do conto Justine e libertação de sua cômoda e monótona vida de casada: “há certo momento da vida que a menina deve separar a história dos livros e a prática na vida real”. Sai de cena a menina e entra em cena a mulher. Sai a infância de aprendizagem e entra em cena a maturidade e a experiência da idade adulta.

Madeleine, por sua vez, via na leitura dos contos, uma possibilidade de livrar-se um pouco de sua vida real: rodeada por loucos e vivendo uma infância não pautada ou regulamentada nos padrões impostos pela sociedade. Madeleine e sua vida foram consideradas pelo médico como um “galho podre” que poderia por a perder todo o seu trabalho, visto que a mesma era a responsável pela exportação dos contos do Marquês ao mundo fora dos muros de Charenton e também responsável pela perturbação causada por estes à sociedade francesa. No episódio do incêndio no hospício, Madeleine foi condenada pelo próprio médico à morte, pois nada era mais prático que o corte do galho ter como executor um alienado, que possibilitou ao médico o não sujar das mãos e instituir com isso a normalidade do local.

A domesticação dos corpos, o controle das mentes, o rigor da leitura é o que faz a educação tornar-se um ferramenta chave de dominação: assim como o médico condena Madeleine e o Marquês de Sade, assim também procede o professor aos seus pupilos – todo aquele que venha a se desviar do padrão estabelecido, ora pela LDB, ora pelo PPP da escola, ora pelas regras estabelecidas pelo próprio professor dentro de sua sala de aula deve ser castrado, cortado, lançado fora, pois dali não haverá frutificação, e ainda além disso, poderá ocorrer a infecção deste galho podre aos bons galhos.

Partindo do pressuposto que a escola é o espaço destinado à aprendizagem de infantes, no sentido discutido aqui: independente de idade cronológica, escola possui essa característica normalizadora e instrutoras dos fatos e dos seres inseridos nela, aplicando em seu dia-a-dia os princípios da hierarquia, vigilância e sanções: “a escola educa e disciplina”.

Como representado pelo Abade Coulmier, o educador age como pastor: ele exerce o poder superior sobre seu rebanho, agrega, conduz, assegura a salvação e se possível e necessário for, sacrifica-se por seu rebanho, mas em nenhum momento ele deixa de inserir no corpo de seu educando os signos e princípios básicos e influências diretas da cristandade, como obediência e virtude.

Como exposto pelo sacrifício dos loucos em repassarem entre si até chegar à Madeleine os versos que compunham o último conto do Marquês, a linguagem também é deturpada na medida em que é repassada por outros, nunca chegando ao seu destino tal como foi remetida.

“minha gloriosa prosa filtrada pela mente de insanos... possivelmente ela ficará até melhor”. Marquês de Sade

Admirável e digno também de ressalva é a gana em escrever por parte do Marquês, que contrapõe qualquer limite para tentar burlar os sistemas externos que tentam silenciá-lo, usando vinho, sangue e até suas fezes, para escrever, quando privado do papel e de penas (castigo imposto àqueles que não se encaixam aos padrões estabelecidos), declarando: “Minha escrita é involuntária, como os batimentos do meu coração. Minha ereção constante!”. O Marquês vê na escrita a única forma de exorcizar todos os demônios presos à sua mente e assim libertar-se.

Fidedigna à fama, a máxima “as palavras voam, mas permanecem quando escritas” é percebida no início do filme, quando há um comentário sobre os revolucionários que, depois de mortos, continuam a causar problemas. Sade não usou, nunca quis usar certo filtro que as “belas artes” costumam colocar sobre as representações dos nossos instintos.

A escrita, assim como a educação, é libertadora, e está inserida no mais diferente local: no fundo de um tinteiro e na ponta de uma pena.

A escrita e a educação é um constante desafio.

.Roberta Ribeiro.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Só, somente só


Queria ser parte da paisagem, mas avisto sozinha o mar vermelho. Somente eu mesma posso tirar a foto. Ondas e oceano. Eu só. Não! Só água..

Atire a primeira pedra quem jamais se sentiu só. E a segunda, quem, mesmo acompanhado, não esteve sozinho. “Somos companheiros da solidão do outro”, escreveu Oriah Mountain Dreamer.

Tenho pessoas em torno de mim por toda parte. Minha adorável – e excêntrica – família. Amigos queridos, tão amados. Colegas de trabalho, gente que admiro conhecendo pouco ou muito. Às vezes minha imaginação é tão ativa que acredito que até desencarnados estejam por perto! Atesto minha loucura. Mesmo assim, nada basta para que me sinta acompanhada. Dirijo em imensas, quase intransitáveis, avenidas. O trânsito parece um gigantesco estacionamento. Como eu posso me sentir sozinha aqui? Toda essa gente junta de um lado. E eu de outro. Essa sensação de estar só.

Poucos não foram os poetas que escreveram a respeito da solitude concatenada ao amor – ou à ausência dele. Olho os casais, depois da inebriante paixão, e não avisto mais que dois indivíduos sós, mas não isolados, compartilhando algo em comum – no melhor dos casos de um relacionamento. Duas partes inteiras que se formassem uma seriam reduzidas pela metade! Por outro ângulo, alguns pensadores viveram sozinhos por terem características intelectuais de tempos posteriores aos seus. Esses, como Leonardo da Vinci, sofreram de algo como solidão ideológica. Outros optaram por se isolar para encontrar Deus, como os monges retirantes. Em florestas e cavernas, buscam por outro. Também amam e estão sós. Assim, penso que talvez as poesias relatem a verdade. Por meio do amor eu me sinto só, ou tenho minha solidão acompanhada. No anonimato, esses monges têm outra forma de solidão que só pode ser curada com um entre todos – este que, ironicamente, está em todo lugar – ao contrário de mim, que me sinto só porque falta uma única pessoa, que aparentemente não pode ser encontrada em lugar algum!

Francamente, eu o que busco? Por que amor nenhum basta para preencher as lacunas que me induzem a pensar que sou só? Por que a compreensão ou simples aceitação dos que me dão ouvidos não pode destruir minha solidão? Por que desejo ser entendida plenamente e recuso o amor condicional? Por quê? Eu estou só, mesmo quando existe alguém por perto e sofro implorando por companhia. Então procuro distrações para que não me sinta assim. Ao mesmo tempo em que me distraio das sensações, me distraio também da vida. Abandono grande porção dela quando separo momentos agradáveis dos desagradáveis. Períodos que, com o toque da diversão, me fazem acreditar que sou feliz quando o máximo que consigo é ter momentos de entretenimento. Que tristeza! Eu quero me ocupar de mim. Bastar em mim sozinha, sem sentir-me só ou ser egoísta, e usufruir a presença do outro, sem projetar nele a injusta responsabilidade de me fazer feliz.

Se eu não sou feliz, nada pode me fazer feliz”, disse o mestre. Foi embora depois de olhar nos meus olhos para proferir: “Se você tem uma razão para me amar, eu não quero teu amor”. Ahh! Mas eu só sei amar por razões pontuais – e inconscientes. Vexatório, mas ele está certo. Meu racional induz ao que chamo de amor. As pessoas que se aproximam de mim são submetidas a um teste invisível de valores e preferências, e, se aprovadas, então fazem parte do meu círculo. Aí digo que amo meus amigos! Por favor, que fique claro, não somente eles... Posso amar também todas as crianças aidéticas africanas! Mas Deus me ajude a ser amorosa pelo sujeito que eu sei dos defeitos (somente características se eu pudesse não julgá-lo) ou os que ofendem minha família e desonram meus amigos. Não sou capaz de amar incondicionalmente, concluo, embora viva iludida querendo dito o sentimento dos demais. Cobro dos outros que me aceitem como sou. Mas eu o que faço? Como sou pequena e insignificante!

Aqueles poetas românticos tinham razão. Digitada tais linhas, falta amor na vida desta que sou – que nem sequer sabe o que amar significa. E que, na insanidade, acredita que, mesmo assim, sinceramente, ama todos os amigos e a família, assim como os deuses sobre todo o universo. Daí brota a solidão que se ramifica por cada e toda faceta de vida minha. As escrituras se provam certas novamente. Elas falam do amor incondicional que nada sei a respeito e atestam que a ignorância é a raiz de todos os males, inclusive da solidão.

Somente água

Com maestria no Vedanta, ele me diz que me ama simplesmente porque realizou que si próprio é o amor. Diz para mim que, quando estou só, e peço por Deus sem vê-Lo, Ele é a solidão. Complementa ensinando a verdade universal de que nada existe além Dele. Eu nada entendo. Ele fala sobre ondas, mar e oceano. Eu penso sozinha em toda aquela água.

Anos depois, em um retiro de ioga que participo só, em Ras Sudr, no Egito, próximo ao mar Vermelho, sou abduzida pela beleza do oceano relembrando as palavras que somente ali fizeram sentido. “Sofremos porque conscientizamos a onda durante toda a vida. Por esse prisma, questionamos o motivo pelo qual somos fortes ou fracos, grandes ou pequenos. Indagamos a respeito da praia que estamos, freqüentemente querendo estar em outras distantes. Durante nossa breve vida, não falta sofrimento. Em curtas vidas, nascemos e morremos sem viver. Em algum momento, descobrimos Deus, o mar! Rezamos para que o mar nos leve às praias que queremos e nos transforme em uma onda diferente da que somos. Um belo dia percebemos que a onda não está separada do mar. Nasce e morre nele.” Tive um sorriso no meu rosto por largo tempo. Finalmente não mais estava sozinha.

Ao encontrar a instrutora que coincidentemente tinha conhecido na Índia anos atrás, contei entusiasmadamente a experiência enquanto relatava minha falta de sabedoria ao sentir-me só. Mas ela me surpreende com um único comentário. “E você sabe que não é nem onda nem mar, não?” A pergunta me deixa intrigada. Ela então conclui: “Nada existe além de água”.

Como os grandes pensadores, sofro de solidão ideológica, mas, ao contrário deles, por falta de capacidade de compreensão. Ainda rezo para que o mar me abençoe. Mergulhada na água sinto a força do oceano, que é característica do volume da água em si. “Sozinha, Ele é tua solidão.” O mestre imortalizado em suas palavras. “Só água.” Entro no mar observando a onda acompanhada pelo mar. Sinto, então, a água alimentar minhas esperanças de realizar a vida além da forma de uma onda que penso ser; além do espaço do mar que interpreto estar sobre todas as coisas. Assim algo me conforta e a solidão parece existir somente neste holograma que os cientistas chamaram de universo e os hindus de maya. Essencialmente água. Só água.

.Patrícia Varella.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Deus?


Em um momento qualquer de dúvida eu me pergunto onde está Deus, que não O vejo. Se admitisse que estivesse presente, não negaria que muitas vezes não entenderia a coerência de seus planos

A voracidade dos meus pensamentos consome minha razão enquanto eu me engano pensando que é justamente esta entorpecida intelectualização que faz de mim um ser racional. Francamente, essa é só mais uma de minhas invenções! Não define minha inteligência ou minha consciência. Tristemente, somente as compromete quando minha sapiência não assimila fatos ou minha presença não absorve o tênue.

Sempre que questiono os acontecimentos que estão fora do meu alcance, subjetivamente atento que não confio na vida ou nos propósitos dela. Mas tenho o atrevimento de dizer tenho fé. Outra criação da minha mente. Se de fato tivesse essa crença cega no invisível eu jamais o contestaria. Obviamente isso nunca tira o meu direito de questionar minhas próprias ações. O que contesto é especificamente minha habilidade em desacreditar na justiça do resultado delas quando claramente não são da minha alçada. Ignorante da situação climática, por exemplo, eu martirizo minha plantação e não aceito as razões da natureza por não vingar minhas sementes.

Essa força que parece ser só um detalhe é na realidade o que dá o tom às cores que escolho para pintar meu mundo, é também, indiscutivelmente, o que rege os acontecimentos da minha vida, aqueles categorizados como destino. A tonalidade definida nessa química sutil de ações minhas e reações da vida transparece um relacionamento íntimo entre a existência e mim. Relação esta que nego impiedosamente ao dizer que sofro de solidão! Como poderia estar só se quem me nutre, não só me dá de comer, mas também opera toda a minha digestão até quando tento evitá-la com somatizações? A vida vence minhas travas e amarras, permitindo que eu a digira como se dissesse: “Urge-se viver!”.

O conhecimento disso, entretanto, não espelha compreensão, pois não reconheço a presença do divino em tudo e todos. Eu observo a vida julgando e condenando o sagrado e o diabólico como se algo fosse menor que o divinizado por aqueles acontecimentos, que, alheios à vontade de cada um, determinam toda uma colheita. Entenda que isso não diz que condutas amorais são regidas pela luz geralmente atribuída ao sublime.

Estas minhas colocações afirmam sim que, independente da ação ou intenção do ser, a vida age decorrente de um poder que lhe é conferido. Não somente meu coração bate, mas também o de pessoas que me são caras e queridas assim como o das que são indiferentes para mim. A vida é impessoal. Eu enfeito a realidade com minhas interpretações desnecessárias enquanto eventualmente procuro experiência sem viver, acumulando palavras sem prática pelo medo de sofrer. Se Deus rezasse o escutaria em oração: “Implora-se viver!”.

Quando eu não encontro o tal do deus, esqueço do evidente poder que faz as flores desabrocharem ou que coloca calor nos raios de sol, o próprio sopro dos ventos ou a consciência que possibilita o pensar, manifestando o pensador que somos. Quando essa breve realização desfaz meu mundo de convicções frágeis, meu falso telhado é destruído. “Ganho as estrelas”, como diz a sabedoria popular. Agora, já emocionada, noto envergonhada que o que penso não existir é debilidade minha. A lei da gravidade já estava em operação muito antes da descoberta de Newton sobre ela. Isso não invalida a força gravitacional, somente a percepção do homem. Sendo assim, Deus, simplesmente perdoa que não te encontre no óbvio evidente de todas as Tuas manifestações.

.Patrícia Varella.

terça-feira, 10 de março de 2009

Hora da Faxina


A desordem do quarto – ou a desordem dos mundos – espelha e estampa a narrativa de cada um de nós

Resolvi arrumar minha prateleira. Comecei por uma pilha de coisas chatas acumuladas. Revistas, bilhetes, notas fiscais, contas, catálogos, DVDs, cartões, impressos, clippings encadernados, fotos, jornais etc. Por que deixo acumular? Ou talvez a pergunta seja: por que recebo tanta coisa que não pedi? Mas agora entrei na pilha, tenho que arrumar. Com duas assistentes, fui entrando no universo concreto daquilo que ficou para depois, direcionando o destino de cada camada. Em uma hora tive que pensar e sentir fragmentos de muitos meses.

Uma capa de revista com um assassinato que chocou o país deixou uma liga de aflição entre um pensamento e outro.

A conta gigante do telefone celular, que apesar de doer no bolso facilita meu trabalho com a minha principal ferramenta: a voz. Voz esta que me abandonou durante alguns meses que procederam o acidente que me deixou tetraplégica.

As minissaias preponderando nos catálogos de moda me autorizam a manter as pernas de fora. Então, de soslaio observo meu guarda-roupa repleto de lindas calças compridas que não uso há mais de cinco anos. Desconforto de novo! Por que mantê-las se não as uso mais? Será uma ilusão de que posso perder meu passado? Ou bloqueio de reviver momentos a cada calça? Mas elas continuam lá, ocupando um espaço importante, que deixa outras peças espremidas e amarrotadas. Será que também fazemos isso com as pessoas? Damos espaço para quem não tem mais protagonismo na nossa vida? Voltei os olhos para o catálogo de sainhas. Tudo bem que sentada na cadeira de rodas não dá para usar saias muito curtas, pois sobem. Ainda mais sendo vereadora em São Paulo, não fica muito adequado. Talvez se fosse vereadora em Trancoso... Já aprendi a conviver com isso.

Fora da ordem
O acomodamento das coisas aglomeradas tem um efeito viral, pois cada item guardado pode expor um novo foco de bagunça. Por isso, o lugar onde mais gosto de colocar os fragmentos da desordem é no lixo.

Agora, uma correspondência de uma agência de viagem faz bela propaganda de Punta Cana. Será que conseguirei ir? Meu pai no hospital, trabalho acumulado... Qual assistente vou levar? O Alfredo, meu namorado, vai querer ir? Quanto custa? Hum, sol, mar, praia, tudo de que preciso. E chega a vez da conta do cartão de crédito, que acaba fazendo meu sonho de férias virar uma conta mental sem fim.

Depois de algum tempo de arrumação, além de o espaço vazio, onde a pilha morava, aumentar meu campo de visão, algo internamente também se organiza. Um algo intangível que inaugura nova fase na vida mental.

Quando passeamos na cidade de São Paulo assistindo a seu crescimento desordenado ficamos mais intolerantes a nossa própria balbúrdia.

Saí para comer e fiquei observando se alguém mais no restaurante tinha expressão de quem acabou de fazer arrumação.

Alguns têm cara de que nunca arrumam; outros não param de arrumar e nunca vencem a baderna; tem também os exemplares que vivem em dia com o passado e nem passam pela confusão.

O momento da arrumação não tem a ver com fantasias ou ilusões mutáveis, a única evanescência desse tipo de faxina está no concreto, naquele sentimento que os impressos desencadeiam. A desordem do quarto – ou a desordem dos mundos – espelha e estampa a narrativa de cada um de nós.

.Mara Gabrilli.

domingo, 8 de março de 2009

Ela Ousou - Margarida Maria Alves



O Dia Internacional da Mulher foi proposto pela líder socialista Clara Zetkin, durante a Segunda Conferência Internacional da Mulher Socialista, no início do século passado, em Copenhague, em 1910.
Uma data em homenagem às mulheres trabalhadoras e a todas as mulheres que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária. Que lutam pelo fim da opressão, miséria e exploração dos povos. Gostaríamos de resgatar também o espírito de luta e combatividade de todas as companheiras que caíram em combate, que resistiram tenazmente, e não abriram mão de seus objetivos. Neste 8 de março de 2005, uma lembrança especial a Margarida Maria Alves. Uma Maria, como a da música, que aponta:

"é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre."

E ela teve. Como revela, em seu poema, Raimundo Francisco de Lima.

MARGARIDA MARIA ALVES

Trabalhadora rural, rendeira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, Paraíba, foi assassinada por jagunços no dia 12 de agosto de 1983. A sua luta em defesa dos trabalhadores sem terra, pelo registro da carteira, pela jornada de 8 horas, pelo 13º salário, férias, entre outros direitos, incomodou os usineiros do Grupo Várzea. Foi assassinada a tiros de escopeta que lhe estouraram o rosto e o cérebro, na porta de sua casa, diante do marido e dos filhos.

Margarida lutadora

No dia doze de agosto
do ano de oitenta e três
parece que a natureza
descuidou-se ou não sei
fazendo com que Margarida
víssemos pela última vez.

Margarida porque tinha
trabalho de consciência
saiu deixando um trabalho
por outro mais de urgência
sem saber que os patrões
usariam da violência.

Estando na sua casa
conversando com o marido
foi visto por um vizinho
quando chegou um bandido
chegando deixar seu corpo
sem vida no chão caído.

Seu Casimiro que estava
nesta mesma ocasião
sentado em uma cadeira
olhando a televisão
foi escutando um disparo
e vendo a esposa no chão.

O Rio Grande do Norte
e Pernambuco também
o povo da Paraíba
de Itambé a Belém
sentiram este drama triste
por tanto lhe querer bem.

Chora toda a Paraíba
que conhecia a mulher
por ser muito combativa
e mantinha a classe em pé
a morte de Margarida
para o povo é taça de fé.

Com ela são trinta e dois
já vítimas de violência
queremos que a justiça
use de mais consciência
tomando de imediato
as devidas providências.

Justiça por caridade
descubra este bandido
se apelarmos pra Deus
faz o que Ele é servido
para que vocês esperem
porque que com ferro fere
com ferro será ferido.

Raimundo Francisco de Lima
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro, Rio Grande do Norte.

Tomates Verdes Fritos


“Um filme simples, mas que encanta com sua simplicidade. ‘Tomates Verdes Fritos’ traz uma história sutil sobre amor e amizade, contada de uma forma bastante atraente. No entanto, nem todo tipo de público se deixará envolver pela produção.”

Baseado no livro de Fannie Flag, e dirigido com extrema sensibilidade, neste filme, questões como a discriminação racial, a violência doméstica, a liberdade, a terceira idade, e a recuperação da auto-estima, são tratadas sem exageros, mas com determinação.

Desnorteada e cansada da vida que levava, Evelyn Couch conhece, por acaso, num asilo para idosos, Ninny, uma carismática senhora, ávida por uma boa amizade e cheia de histórias e experiências para compartilhar. Ninny conta-lhe sobre a história de amor e amizade e cumplicidade entre duas mulheres datada do início dos anos 30, no Alabama, entre Idgie Threadgoode e Ruth Jamison. Não é uma trama explícita ou chocante, muito menos uma apologia direta ao homossexualismo, já que esse aspecto fica apenas subentendido. Elas haviam aproximado inicialmente em função do namoro entre Ruth e Buddy, o irmão mais velho de Idgie, objeto de adoração desta. A morte trágica e acidental de Buddy motivou Idgie a afastar-se de todos que lhe cercavam.

Anos depois, Ruth, a pedidos da mãe de Idgie, consegue aproximar-se desta, com persistência e tamanha doçura que ninguém teria alcançado, possivelmente este tenha sido o motivo que a fez galgar êxito em sua empreitada. Apesar de serem completamente diferentes, surge entre elas uma forte e profunda amizade, capaz de resistir ao tempo, às dificuldades e, até mesmo à morte. Ninny, uma excelente contadora de histórias, narra o drama vivido pelas amigas Idgie e Ruth um pouco a cada dia em que é visitada por Evelyn. A força de Ruth e a coragem de Idgie acabam tocando o coração de Evelyn, que descobre em si virtudes suficientes para mudar a sua realidade. O marasmo e o conformismo de outros tempos são definitivamente abandonados pela disposição sincera de alcançar, por si mesma, a felicidade.

O trunfo do filme, para quem assistiu e pode perceber, está no fato de desenvolver a história de uma forma bastante sutil. Independente do tipo de relação que Ruth e Idgie constroem, a ênfase é dada apenas ao sentimento que as une. Até mesmo a antipatia que as duas mulheres despertam em habitantes mais conservadores da cidade não está ligada ao fato das duas estarem juntas, mas sim por elas tratarem com igualdade todos os excluídos da sociedade de então.

A amizade de Ninny e Evelyn e a de Idgie e Ruth são exemplos de que nossos atos e palavras podem influenciar os outros, mas os únicos efetivamente responsáveis pelo nosso destino somos nós mesmos. Saber lidar com as perdas e afastamentos e continuar vivendo com dignidade e resignação; saber partir e saber realizar nossos verdadeiros desejos, eis aí as maiores lições que esse belo filme nos deixa. De quebra, ainda, há a questão do preconceito racial – intenso naquela região na época retratada – e o velho dilema do “saber envelhecer”.

“Tomates Verdes Fritos é na verdade dois filmes em um. O melhor está na mistura das aventuras doces e amargas das amigas Idgie e Ruth. Um drama sobre fortes, destemidas e engraçadas mulheres. Não é exatamente um sucesso híbrido, mas pode ser visto dessa forma, se você desejar.”
Rita Kempley – The Washington Post – 10/01/1992

FICHA TÉCNICA
Título Original: Fried Green Tomatoes
Ano: 1991
País de Origem: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Duração: 125 min.
Trilha Sonora: Thomas Newman
Roteiro: Fannie Flag
Direção: Jon Avnet
Elenco: Kathy Bates; Mary Stuart Masterson; Marie-Louise Parker; Jessica Tandy; Gailard Sartain; Stan Shaw; Cicely Tyson

Como boa película é a coisa mais rara existente em extinção no meio dessa feira, segue o link
Tomates Verdes Fritos

sábado, 7 de março de 2009

cartas


Hery:

Que noite fria, meu Amor, está em que te escrevo! A chuva cae em bátegas ininterruptas e um vento áspero, cortante, envolve todas as cousas no seu abraço glacial. A minha pelle está quase gelada e os meus dedos endurecidos pelo frio, quase se recusam a escrever.
E comtudo a minha alma sente calor, o sangue corre nas minhas veias com ardências satânicas; o desejo se enrosca no meu corpo como uma serpente de fogo... E tudo isso porque li a tua carta! E que carta louca, meu Amor! Foi-me impossível, lel-a sem corar; um rubor de pejo subiu-me às faces e instintivamente levei a mão ao decote do meu vestido como para defendel-o de ser aberto por ti. Affigurou-se-me, não estar lendo uma carta tua e sim ter-te junto de mim; crê, meu Hery, que experimentei a sensação de ter os teus cincos dedos a apertar-me a carne numa carícia violentamente sensual. O leve contacto da roupa irritou-me a pele, deu-me a impressão de ser o contacto da tua mão nervosa e febril que me percorresse o collo num affago voluptoso. Se estivesses aqui e me fizesses uma carta assim impregnada de volúpia ardentíssima, eu, quando a lesse, não me atreveria a olhar-te. Imagina agora se essas cousas todas que me escreves se chegarem a realizar, como eu não terei vergonha de ti! Se nas minhas eu tenho usado de uma linguagem demasiadamente franca, (não quero dizer livre), é porque, quando te escrevo, deixo o pensamento seguir os impulsos da minha natureza sensual e vibrátil; é porque sei que o amor sincero é confiante e perdoa essas loucuras do coração e dos sentidos.
Eu e tu, moços, ardentes e apaixonados, por que havemos de negar que nos amamos, que nos queremos, que nos desejamos?
Ah! Meu amor, tudo o que eu sinto por ti, eu não sei esconder-te; prefiro dizer-te, ainda que me censures, às vezes, as sós comtigo.
Mas eu te amo tanto e vivo tão longe de ti! Que cousa triste e desesperadora, meu Hery!...
Por hoje, digo-te adeus e também que estou nervosa, febril...
Para que me escreveste aquellas palavras?
A minha bocca te beija.


Anayde.



Parahyba, 27 de Julho de 1926.

.Dinda, muito obrigada por compartilhar sua experiência ;]

sexta-feira, 6 de março de 2009

Anayde Beiriz, paraíba masculina


Anayde Beiriz escandalizou a sociedade retrógrada da Paraíba nos anos 30. Sensual e libertária, ela era publicamente a favor da autonomia feminina

Revendo a história da década de 30 sob uma faceta diferente daquela vivida por Olga Benário, vamos falar sobre Anayde Beiriz, cuja paixão serviu também como estopim para a Revolução de 30, na Paraíba. Poetisa e professora, ela escandalizou a sociedade retrógrada da Paraíba com o seu vanguardismo: usava pintura, cabelos curtos, saía às ruas sozinha, fumava, não queria casar nem ter filhos, escrevia versos que causavam impacto na intelectualidade paraibana e escrevia para os jornais.

Anayde Beiriz nasceu em 1905 em João Pessoa. Diplomou-se pela Escola Normal em 1922, com apenas 17 anos, destacando-se como primeira aluna da turma. Além de normalista, era poeta e amante das artes. Logoque se formou, passou a lecionar na colônia de pescadores perto de sua cidade natal. Em 1925, ganhou um concurso de beleza. Circulava também nos meios intelectuais, onde declarava-se publicamente a favor da liberdade e da autonomia feminina.

Sendo uma mulher emancipada para os costumes do seu tempo, Anayde perturbou a sociedade conservadora da Paraíba, nos anos 30. Ousou exprimir uma sensibilidade que chocou o modelo de moralidade prevalente: sua maneira de se vestir (o uso dos decotes), o corte dos cabelos "à la garçonne", que eram pintados, assuas idéias políticas (quando as mulheres não tinham sequer direito ao voto) e a maneira de vivenciar o amor livre causaram escândalo.

Em 1928, iniciou o seu romance com o deputado João Dantas, que era adversário de João Pessoa, candidato à Presidênia da Paraíba. Em 1930, o Brasil sofreu reviravoltas importantes. A chamada política do "café com leite" centralizava o poder entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. O bloco político, do qual a Paraíba fazia parte, interveio nas disputas políticas, que se tornavam violentas e as questões da vida pública.

A ligação amorosa entre João Dantas e Anayde Beiriz não eram bem vista pela hipocrisia social, uma vez que não eram casados. Prato feito para os inimigos políticos de João Dantas, que sob as ordens de João Pessoa, arrombaram a casa, apropriaram-se da correspondência erótica do casal e piblicaram-na nos jornais da cidade. Sensual e libertária, Anayde foi duramente exposta à sociedade paraibana. O que era uma invasão de cunho político, mobilizou todo o Brasil ao ganhar o contorno de uma grande paixão, vivida às escondidas.

No dia 26 de julho, João Dantas, furioso com a publicação de suas cartas de amor, correu pela cidade atrás do mandante e ao enconrtá-lo disse: "Sou João Dantas, a quem tanto injuriaste e ofendeste". Matou com três tiros João Pessoa e logo em seguida foi preso. Este ocorrido serviu de pivô para uma convulsão nacional que suncumbiu na Revolução de 30. A morte de João Pessoa comoveu todo o Brasil, pois ele nesta época já era muito famoso, ao ter concorrido à presidência como vice de Getúlio Vargas. Em outubro daquele ano o movimento revolucionário foi deflagrado e anayde passou a ser perseguida e apontada na rua como "a prostituta do bandido que matou o presidente."

Logo depois, João Dantas morreria em circunstâncias misteriosas. Anayde se matou na prisão, ingerindo veneno. Foi enterrada como indigente e sua memória foi renegada durante anos pelos paraibanos. Sua imagem só se tornou emblemática quando foi elegida como uma das personagens míticas da história do Brasil, pelo movimento feminista. Mas, até hoje, sua memória causa desconforto naquela região.

Hoje, a sua história, tematizada no teatro, no cinema e na literatura, instiga a pensar sobre a intersecção entre os fatos da vida privada e da vida pública, no contexto da história nacional. A encenação da vida de Anayde Beiriz nos chama atenção para as "dobras do lado de dentro" da história oficial, isto é, a dimensão do intimismo no contexto da experiência pública. Ficou conhecida como a "Paraíba masculina, mulher-macho sim senhor".

.Mariana Várzea.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Doces Cariocas: novos bárbaros a invadir players e ouvidos


Morde a língua na próxima vez que falar que 'não se fazem mais músicas boas como antigamente...' Novos bárbaros com lindas canções preparam a invasão de players e ouvidos. Trata-se do coletivo Doces Cariocas, um combinado de amigos compositores que transformaram saraus informais num lançamento orgânico, sensível e verdadeiro.

As canções são as protagonistas de um 'baleiro musical' com Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Marcelo Costa Santos, Os Lancelotti Domenico e Alvinho, Simoninha, Luis Carlinhos, Rogê, Silvia Machete, Ingrid Vieira, além dos instrumentistas Felipe Pinaud, Dadi, Mauro Refosco, Rafa Nunes, Lancaster e Pretinho da Serrinha. A ala dos compositores conta ainda com 'pitacos' de Mú Carvalho. A produção - minimalista no melhor sentido que a palavra pode sugerir - é do grupo e Marcelo Sabóia. Só pérolas raras, de sabores e talentos.

O lançamento é mais um do selo-cooperativa Abacateiro, cuja filosofia traduz o espírito coletivo do grupo. Profissionais das mais diversas funções fundamentais na produção de um álbum com o sonho comum de popularizar aqueles seus ‘sucessos-preferidos-que-só-a-gente-conhece’, os hits dos saraus.

Desde seu nome o Doces Cariocas resgata música e postura do Clube da Esquina, dos Novos Baianos e Doces Bárbaros. Vozes femininas e masculinas se alternando, diversos intérpretes e gêneros musicais, violões, texturas sonoras, e o principal elo entre o novo grupo e os grandes mestres: canções relevantes, daquelas que prometem valer a pena serem ouvidas daqui a muitos anos. Sons e sensações de dar vontade de pegar uma trilha, um ar puro, voar no vento e se elevar na calma. Vem à tona também o astral das trilhas de saudosos e tocantes projetos infantis, de A Arca de Noé ao Sítio do Pica Pau Amarelo.

Doces Cariocas é para crianças de todas as idades. Resgatam o passado mirando no futuro. Eles vêm, com alto astral, altas transas e planos muito bons!

Recomendável escutar na frente de uma fogueira, em uma noite sideral.

.Leandro Souto Maior.

Como boa música é a coisa mais rara existente em extinção no meio dessa feira, segue o link
Doces Cariocas

segunda-feira, 2 de março de 2009

O noivo da minha melhor amiga


“Um livro envolvente, maravilhoso e engrandecedor.” Marian Keyes, autora de Melancia e Sushi
É um livro envolvente que descreve os pormenores de uma relação de amizade de logo tempo entre duas moças, porém, de repente acontece algo inesperado com uma delas que vai trazer muitos questionamentos sobre esta relação que aparentemente é prazerosa. No entanto, há diferenças entre as duas que sem perceberem, prejudica ambas. Uma delas, chamada Darcy, é aquela pessoa que possui tudo na vida: beleza, charme, carisma, sorte, enfim sempre se sai bem na vida, e a outra, Rachel, advogada, que anseia desesperadamente encontrar um amor, porém, sente-se sempre inferiorizada em relação á amiga, o que não a deixa perceber que também tem seu charme.
É uma estória comovente de escolha entre um grande amor e uma grande amizade, que se transforma em um sofrido dilema para Rachel.
Tudo começa no dia de seu aniversário, quando completa trinta anos de idade. No final da noite de sua festa, organizada pela melhor amiga, Rachel, um pouco tonta, vítima de uns drinques a mais, é levada para casa pelo noivo da amiga, e no instante seguinte, depara-se na cama fazendo amor com ele. Dexter era seu grande amigo de faculdade, porém ela nunca imaginou ter nada com ele, pois não se achava merecedora já que sempre se sentiu ofuscada pela beleza e qualidades de Darcy, sequer imaginava que, ele sendo bonito, inteligente, elegante, educado, etc. algum dia, daria atenção a ela, tanto que o apresentou á amiga Darcy, certa de que eles formavam um par perfeito, e, realmente aí começou o relacionamento deles. Agora, ela encontra-se ali, na maior intimidade com o noivo da melhor amiga. Neste momento começa o dilema de Rachel. No dia seguinte, sente-se péssima por ter traído a melhor amiga, porém, embora queira esquecer o lamentável ocorrido, ela começa a se envolver com Dexter que agrava o problema, lhe afirmando não estar embriagado no dia fatídico e nem se importar com a noiva. Diante disto, tem início uma batalha na cabeça de Rachel: de um lado sente-se terrivelmente mal em relação á sua amizade de anos com Darcy, que ainda por cima a convidou para ser sua madrinha de casamento e lhe pede ajuda para os preparativos do enlace; e por outro, o sentimento de amor que nasce forte pelo ex colega de faculdade. Mesmo com a mente atormentada pelo que fez, o relacionamento torna-se forte, e eles se encontram ás escondidas, até que faltando pouco para o casamento, Rachel enche-se de coragem e pede para que Dex desista de se casar com a amiga e fique com ela, declarando todo seu amor. No entanto, ele lhe diz não conseguir fazer isto, pois o noivado se arrasta por anos e ele deve este matrimônio á família dela. Arrasada com a rejeição, pois ela tinha esperanças de que desta vez se saísse vencedora, depois de tantos fracassos, Rachel passa uma semana na casa de um amigo em Londres tentando juntar os cacos de seu coração partido. Cogita-se até uma mudança para a capital inglesa e um novo recomeço de vida. Chega à hora de voltar, pois o casamento se aproxima e ela, sendo a madrinha, acha que deve ir de qualquer maneira, mesmo que isto lhe custe muita dor. Quando chega a seu apartamento, para sua surpresa encontra Dex lhe esperando. Doido de saudades ele lhe diz que desistiu de tudo, pois sentiu que a ama demais e não pode viver sem ela. Rachel não acredita no que houve e os dois preparam-se para se amar desesperadamente. Mas, neste momento, Darcy também resolve visitá-la e o porteiro avisa de que ela está subindo, Dex, semi despido, mal tem tempo de se esconder no armário, enquanto Darcy, chorando, conta a Rachel que foi dispensada pelo noivo, porém já está grávida e apaixonada pelo melhor amigo dele, Marcus, que era namorado de Rachel, enquanto ela tentava desesperadamente eliminar Dexter do seu coração. O ex noivo ouve tudo e fica sabendo da traição da ex noiva.
Quatro estórias, quatro pessoas traídas: Marcus traiu Dexter. Dexter traiu Darcy. Rachel traiu Darcy e Darcy traiu Dexter e Rachel. Depois de todas as emoções deflagradas, as quatro vidas tomaram seu rumo. Dexter e Rachel ficaram juntos e felizes; Darcy e Marcus possivelmente trilharão o mesmo caminho. Somente o longo relacionamento de amizade que unia as duas moças foi perdido, talvez para sempre, não se sabe, porém esta é uma dor que, pelo menos para Rachel, será sentido e lamentado pelo resto de sua vida.

Como boa leitura é a coisa mais rara existente e m extinção no meio dessa feira, segue o link para download, créditos à Nicinha
Emily Giffin - O noivo da minha melhor amiga

Amor e Caos


A paulista Ana Cañas, de 27 anos, formada em artes cênicas , resolveu investir na carreira de cantora depois da experiência de participar de alguns musicais produzidos durante a faculdade. O seu disco de estréia Amor e Caos prima por ser autoral, audacioso e distante do que se convencionou denominar MPB. Amadurecida por mais de cinco anos de jam sessions na noite de São Paulo, a cantora imprime nas canções do álbum uma atmosfera jazzística, sem fazer jazz, mas usando e abusando de um andamento musical imprevisível e extremamente inovador. O single "A Ana" é uma canção autobiográfica que reflete a mistura de sons interessantes e provocantes que a cantora faz. Uma canção para mostrar uma nova cara da música brasileira. Não deixe de conferir!

Como boa música é a coisa mais rara existente em extinção no meio dessa feira, segue o link

Ana Cañas - Amor e Caos

 
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