sábado, 28 de março de 2009

Como controlar a gula



A melhor maneira de se evitar a compulsão alimentar é fazer pequenas mudanças de efeitos significativos na alimentação.


A compulsão pode ser definida genericamente como a busca obrigatória, imperativa e sem controle do prazer. Quando focada nos alimentos (compulsão alimentar), caracteriza-se pela presença de três ou mais dos seguintes critérios: comer muito e mais rapidamente que o normal; comer até se sentir incomodamente repleto; comer grandes quantidades de alimentos (mesmo já saciado); comer sozinho (para evitar o embaraço devido ao absurdo da quantidade); sentir repulsa por si mesmo ou culpa por ter comido tanto. O diagnóstico só pode ser feito por um médico especialista, mas, em geral, quem se identifica com a maioria das atitudes acima tem grandes chances de sofrer da “síndrome da gula”.

Como doença, a compulsão alimentar pode estar relacionada a problemas de regiões do cérebro responsáveis pela produção e “regulagem” da substância química serotonina, que participa do controle de grande parte de nossas emoções (inclusive as compulsões). Os sintomas clássicos podem ser desencadeados por uma grande variedade de situações psicológicas, tais como ansiedade, tensão, tédio, perdas, frustração com planos que não deram certo, excesso de obrigações, entre outras ligadas ao estresse contemporâneo.

Francine Prose, em seu livro Gula, mostra que, no Renascimento, comer muito significava incorrer em um “vício” que afastava as pessoas de Deus. Depois da Revolução Industrial, sucumbir à tentação das delícias à mesa passou a ser sinal de prosperidade. Tida como o quinto pecado capital, a gula mereceu condenação por parte de religiões que condenam o excesso, sob o argumento de que os alimentos devem ser compartilhados. Na Divina Comédia, os glutões se situam no círculo do Inferno de Dante. E na sociedade contemporânea comer demais pode ser sinal de busca de prazer ou de carência afetiva...

Em pesquisas realizadas em nossa clínica, por meio de questionários entregues a pacientes que nos procuram para tratamento do excesso de peso e da obesidade, temos observado uma incidência em torno de 75% de casos de compulsão significativa (com a presença de três ou mais dos critérios fixados acima). Não só nesses levantamentos como também na literatura médica em geral, verificamos que a compulsão alimentar acomete mais da metade dos pacientes que estão acima do peso ideal. Para fazer o diagnóstico de compulsão alimentar, são muito importantes o sentimento expresso de perda de controle (falta de liberdade por optar entre comer ou não) e o sofrimento relativo à impotência de reagir diante dessa situação.

Qualquer caso de compulsão pode ser tratado, e freqüentemente se recomenda o apoio psicoterápico. Nas compulsões alimentares, observamos bons resultados com a suspensão temporária do consumo de carboidratos (açúcares). Porém, isso deve ter a supervisão e o acompanhamento de um médico nutrólogo de confiança. A melhor maneira de se evitar ou se controlar a gula é fazer pequenas mudanças de efeitos significativos na alimentação. Normalmente, quanto mais comemos alimentos ricos em açúcares de alto índice glicêmico (doces, pães, etc.), mais gulosos e “carentes” de doces ficamos. Isso se deve a uma relação química existente entre a insulina (hormônio produzido pelo pâncreas) e a serotonina. Mas deixe essa parte da história com o seu médico. Com uma boa reeducação metabólica e alimentar, você vai viver de uma forma bem mais saudável e menos ansiosa, e poderá, finalmente, libertar-se da gula.

Alexandre Merheb

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